24 de out. de 2012

Um País de TOD@S?





                                                                                                                  Retirado do Mário Lobato




Nas últimas semanas, além do futebol de sempre, dois assuntos ocuparam as manchetes: o julgamento do chamado "mensalão" e, em São Paulo, o programa de combate a homofobia, grotescamente apelidado de "Kit Gay". Quase nenhuma importância se deu a uma espécie de testamento de uma tribo indígena. Tribo com 43 mil sobreviventes.

A justiça federal decretou a expulsão de 170 índios na terra em que vivem atualmente. Isso no município de Iguatemi, no Mato Grosso do Sul, à margem do Rio Hovy. Isso diante de silêncio quase absoluto da chamada Grande Mídia. (Eliane Brum trata do assunto no site da revista ÉpocaLeia aqui a matéria  ). Há duas semanas, numa dramática carta-testamento, os Kaiowá-Guarani informaram:
-Não temos e nem teremos perspectiva de vida digna e justa tanto aqui, na margem do rio, quanto longe daqui. Concluímos que vamos morrer todos. Estamos sem assistência, isolados, cercados de pistoleiros, e resistimos até hoje. Comemos uma vez por dia.


Em sua carta-testamento os Kaiowá/Guarani rogam:
- Pedimos ao Governo e à Justiça Federal para não decretar a ordem de despejo/expulsão, mas decretar nossa morte coletiva e enterrar nós todos aqui. Pedimos para decretar nossa extinção/dizimação total, além de enviar vários tratores para cavar um grande buraco para jogar e enterrar nossos corpos. Este é o nosso pedido aos juízes federais.

Diante dessa história dantesca, a vice-procuradora Geral da República, Déborah Duprat, disse: "A reserva de Dourados é talvez a maior tragédia conhecida da questão indígena em todo o mundo". 

Em setembro de 1999 estive por uma semana na reserva Kaiowá/Guarani, em Dourados. Estive porque ali já acontecia a tragédia. Tragédia diante do silêncio quase absoluto. Tragédia que se ampliou, assim como o silêncio. Entre 1986 e setembro de 1999, 308 índios haviam se suicidado. Índios com idade variando dos 12 aos 24 anos. 

Suicídios quase sempre por enforcamento, ou veneno. Suicídios por viverem confinados em reservas cada vez menores, cercados por pistoleiros ou fazendeiros que agiam, e agem, como se pistoleiros fossem. Suicídio porque viver como mendigo ou prostituta é quase o caminho único para quem deixa as reservas.

Italianos e um brasileiro fizeram um filme-denúncia sobre a tragédia. No Brasil, silêncio quase absoluto: Porque Dourados, Mato Grosso, índios... isso está muito longe. Isso não dá Ibope, não dá manchete. Segundo o Conselho Indigenista Missionário, o índice de assassinatos na Reserva de Dourados é de 145 habitantes para cada 100 mil. No Iraque, esse índice é de 93 pessoas em cada 100 mil.

Desde 1999, quando estive em Dourados com o fotógrafo Luciano Andrade, outros 555 jovens Kaiowá/Guarani se suicidaram no Mato Grosso do Sul. Sob aterrador e quase absoluto silêncio. Silêncio dos governos e da Mídia. Um silêncio cúmplice dessa tragédia.

4 comentários:

  1. Eita, que coisa horrível. Tinham que ter sido expulsos é todos. Eles acham que viver é como antigamente, caçando, plantando e vivendo arcaicamente, Porém todo índio tem um celular, eles são andam com moto, tem tribo que até tv já tem. Então é o seguinte, se eles querem ser donos das terras, por mim tudo bem, agora eles tem que pagar que nem cada cidadão do Brasil, porque a desculpa de que...os índios estavam aqui primeiro não cola mais não. Na natureza o "bicho" mais forte sobrevive. Nesse caso o "bicho" homem branco é mais forte e cabe aos índios sucumbirem ou se adaptarem aos direitos e deveres como uma pessoa qualquer.

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    1. Diferentemente da sua ignorância, e da ignorância e truculência do homem branco em geral, os índios têm muita sabedoria, principalmente para lidar com a terra/natureza sem causar o desequilíbrio da mesma, coisa que pessoas como você sequer imaginam como fazê-lo. Sinto muito se você não tem a capacidade de enxergar a importância de se preservar a diversidade cultural e ambiental do Brasil, ou de qualquer outro lugar do planeta.
      Antes de criar uma opinião, pesquise, se informe, pois suas afirmações são generalistas, extremamente ignorantes e infundamentadas, sem falar preconceituosas.
      Eles têm muito mais direitos sim, sobre a terra do que nós, não só porque eles estavam aqui antes, mas por eles saberem tratá-la muito melhor do que o caucasiano e também porque sempre sofreram a truculência da "nossa" justiça, que só é justa para aqueles que a constroem, o invasor, o colonizador, o homem branco, como queira chamar.
      Você vem dizer que o índio tem que se adaptar aos direitos e deveres de uma pessoa qualquer, é muito fácil você afirmar algo assim quando surge um problema desses, só que o índio nunca foi tratado como uma pessoa qualquer, sempre sofreu repressão, teve seus direitos negados, muitas vezes sequer foi tratado como ser humano. Então, não me venha com essa de que o índio tem que sucumbir ou se adaptar aos direitos e deveres de uma pessoa qualquer, porque ele não é uma pessoa qualquer, ele merece muito mais respeito, muito mais reconhecimento, muito mais reverência, muito mais admiração do que uma pessoa qualquer (como você).
      Um comentário covarde como este só poderia ser assinado por um covarde que sequer se identifica...

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  2. Suas idéias ou pelo menos a imagem que você mostra nesse site é a de que há a liberdade de expressão. (pelo menos aqui pensei)
    Então se não está satisfeito com uma opinião expressa seja por mim, "UMA PESSOA QUALQUER", ou qualquer outra pessoa, então o covarde é vc. Pois dispõe de uma ferramenta onde vc expressa sua opinião e abre para q outras pessoas tb o façam (se há uma opção de comentar como anônimo, então a pessoa pode se sentir no direito de colocar isso), porém se esta opinião difere da sua, vc ataca tanto a ideia como a pessoa que está falando.
    Se vc que é representante de um Diretório Acadêmico tem o pensamento tão fechado para ideias diferentes da sua, e ao ver divergências de pensamentos ataca o outro ao invés de argumentar para convencer esta pessoa, já sei pq a credibilidade do seu D.A é do jeito que é.
    Sem mais,
    Anônimo Novamente por direito e vontade.

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  3. Como não tenho contas de Blog, nem Facebook, nem desses trecos eletrônicos portanto não poderei acessar a tal conta google e teria que assinar como anõnimo,digo logo meu nome: Rozélia.
    Fiquei atônita com o comentário da pessoa que insiste em assinar como "ANônimo Novamente por direito e vontade". Veja só: liberdade de expressão é uma coisa. Incitação à violência é outra. Você está fazendo esta última. Você acha que é livre para dizer o que quer? Você se torna presa da sua escolha. Portanto, você não é livre, porque simplesmente não podemos ser livres para fazer o que dá na telha.
    Seu discurso é o puro discurso da intolerância. É de um darwinista social lá do século XIX, quando você se refere à sobrevivência do ser mais forte. Também é o pensamento de um nazista do século XX que apregoava a eugenia, isto é, do bem-nascido, quando a tônica era da limpeza racial que culminou com a morte de 6 milhos de judeus e milhares de ciganos. Seria você um neo-nazi? Que dó!. você se encontra na contra-mão da história.
    Deixe eu lhe dizer uma coisa: um índio é assim chamado porque quando Cristóvão Colombo chegou às Antilhas no século XV pensou que havia chegado às Índias, portanto os homens e mulheres e crianças e jovens que ele viu só podiam ser "Índios".Antes de qualquer rótulo, eles e elas são pessoas. Portanto, essas pessoas tem o direito inalienável de viver, ainda mais na terra que, naturalmente, lhes pertence.
    Anônimo Novamente,sua intolerância pelo outro chega às raias da total da irracionalidade, quase lhe transformando em monstro. Tem um pintor espanhol chamado Goya que disse o seguinte "O sono da razão gera monstros". Você é impiedoso (sim porque acho que você é menino uma vez que é anônimo e não anônima)
    Não sei sua idade, seu sexo, deve ser um menino pelo gênero masculino que você escolheu, mas lhe pergunto: você tem filho? filha? jà pensou o mundo sem piedade, sem amor pelo outro, o que será dele ou dela?
    Acho que você precisa ouvir Beatles. Enquanto isto, mando para você a letra de "Help"...pense sobre ela.
    Fica em paz
    Rozélia

    Help, I need somebody
    Help, not just anybody
    Help, you know I need someone
    Help!

    When I was younger
    So much younger than today
    I never needed anybody\'s
    Help in any way
    But now these days are gone
    I\'m not so self assured
    Now I find I\'ve changed my mind
    And opened up the doors

    Help me if you can, I\'m feeling down
    And I do appreciate you being round
    Help me, get my feet back on the ground
    Won\'t you please, please help me

    And now my life has changed
    In oh so many ways
    My independence seems
    To vanish in the haze
    But every now and then
    I feel so insecure
    I know that I just need you like
    I\'ve never done before

    Help me, help me, oh

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